Conto, novela e romance – qual é a DIFERENÇA entre esses três gêneros narrativos?

 

E aí, pessoa destemida?

Tudo bem por aí?

 

No post de hoje, vou responder essa pergunta que não quer calar: qual é a diferença entre conto, novela e romance na literatura?

Se você acha que um bom romance é uma história que tem um casal apaixonado que enfrenta tudo pra ficar junto, então você precisa ler esse post até o fim.

Um ponto em comum entre esses três tipos de produção literária é que são todos gêneros narrativos. Isso significa que, em todos eles, há um enredo que constrói um clímax, no qual personagens agem dentro do enquadramento de uma sequência temporal.

Mas o que é uma narração e quais são os seus elementos? Bem, isso fica pra outro post. Tenha paciência, jovem padawan.

via GIPHY

 

Bora falar do que define o conto, a novela e o romance, que é o nosso objetivo, né?

 

O conto

 

Fui buscar no Dicionário de gêneros textuais do Sérgio Roberto Costa, uma mãozinha pra responder à questão que motiva esse post. Segundo o autor (COSTA, 2020, p. 86), o conto, assim como a novela e o romance, pertence à esfera da narração. Diferente do romance (geralmente mais longo), o conto é mais curto.

Por conta desse perfil pouco extenso, o conto apresenta poucos personagens, enredo e estrutura temporal sintética, chegando a ser, em muitos casos, restrito a uma ou poucas ações. Isso também faz com que não haja intrigas secundárias, como acontece no romance ou na novela.

Também por isso, por outro lado, o conto pode conter uma unidade e um tom uniforme que o romance não consegue ter. Essa estrutura econômica do conto tem a ver com sua origem sociocultural, entre outros fatores. Isso porque ele veio dos causos e contos populares, próprios da tradição oral, que podiam ser contados a auditórios e reuniões privadas por um contador.

 

Quer um exemplo? O conto “O espelho”, de Machado de Assis, que está em domínio público.

 

 A novela

 

Em linhas gerais, veja a seguir algumas características desse gênero:

– apresenta diversos enredos que vão se conectando ao longo do enredo (a gente sabe que Fulano e Ciclano são irmãos, mas eles ainda não… É bem isso);

– pra fazer sentido, o enredo se dá numa sequência cronológica (embora tenha direito a flashbacks de vez em quando);

– existe dependência de elementos como data e hora (se as ações forem desconectadas de sua cadeia de acontecimentos do enredo, ficamos perdidos e não vemos sentido nelas);

 

via GIPHY

 

– o número de personagens não é estipulado de antemão, então eles podem sair e voltar à trama, dependendo do que o autor planejou pra eles;

– o autor é onipresente e sabe tudo de tudo: quem vai ficar com quem, todos os enredos paralelos, todas as conexões. E ele vai, aos poucos, nos revelando isso, pra manter um suspense, né?);

Sérgio Costa, no Dicionário de gêneros textuais (2020, p. 181-2), traz um pouco da origem da novela. Basicamente, ela remonta à Idade Média, com o surgimento das novelas de cavalaria, que narravam aventuras e feitos heroicos, passando pelas novelas sentimentais do Renascimento. Contudo, foi no Romantismo que esse gênero alcançou sua maturidade, com temáticas de aventura, passionais e fantásticas. A partir daí, a novela ganhou status de um gênero narrativo com aspectos diferenciadores de seus dois colegas, o conto e o romance.

Só pra complementar o que já coloquei nos tópicos, ainda na cola do Dicionário do Sérgio Costa, aí vão algumas coisas que ajudam a gente a diferenciar a novela do romance e do conto.

– a novela não é tão curta quanto o conto, mas também não chega a ter a extensão de um romance, embora esse não seja um critério tão definidor pra diferenciar uma coisa da outra.

– a novela tem suas especificidades como, por exemplo, a ação se desenvolve num ritmo rápido e tem relativa simplicidade, quase sempre concentrada num único desfecho.

– o tempo é linear e quase não tem grandes desvios, e o espaço pode ficar em segundo plano, dando relevância à caracterização de uma personagem à exploração de seu horizonte psíquico.

E, finalmente, pra facilitar a nossa vida:

Na novela, existe uma unidade da linha principal da narrativa que, por um lado, foge das minúcias e teias de relações do romance e, por outro, se distancia da tendência sintética (e quase restritiva) do conto.

 

Exemplos de novelas:

“A metamorfose”, de Frans Kafka

“O alienista”, de Machado de Assis

“Vidas Secas”, de Graciliano Ramos

 

O romance

 

Antes de mais nada, romance não é um clima que paira no ar ou uma historinha de casais que superam tudo pra viver aquele amor bem açucarado. Apesar de a gente, no dia a dia, atribuir um significado sentimental à palavra “romance”, quando falamos de literatura, temos que guardar na caixola que se trata de um termo técnico. Isso mesmo: é o nome de um tipo de gênero narrativo cheio de complexidade.

Pensando bem…. Eu posso dizer que já vivi romances com muitos romances! E você, não? Olha que amor, essa polissemia! #boraler

via GIPHY

 

Com vocês, de novo, o Dicionário do Sérgio Costa, (2020, p. 207-8), que tanto me ajudou nesse post. Nele, o autor afirma que se trata de um dos gêneros mais conhecidos. E eu concordo com ele.

O romance é herdeiro da tradição das epopeias, embora seja um gênero narrativo, como o conto e a novela. Ao contrário das epopeias (como a Ilíada, a Odisseia (link) de Homero e a Eneida (link) de Virgílio), o romance é construído em prosa e tem uma extensão que costuma ser longa. O que não quer dizer que a gente não encare, né?

Nesse gênero, o foco está voltado para o relato de fatos imaginários, que podem ou não ser inspirados em fatos reais, com a finalidade de dar enfoque a aventuras, ao estudo de aspectos psicológicos, à crítica social, entre outras coisas.

Podemos dizer que o romance tem pontos que conferem a ele uma narrativa fluida, organizada e harmônica, combinando várias ferramentas literárias pra criar uma narrativa linear dotada de profundidade. O romance, enquanto gênero literário, apresenta algumas características em sua composição. Olha só:

– paralelos estilísticos com vários outros gêneros literários;

– absorve, quando é o caso, diversos trejeitos da narrativa oral cotidiana;

– se apropria de vários gêneros narrativos;

– tem uma grande variedade de aspectos, de acordo com seu contexto de produção, momento histórico, intenção do autor e proposta artística, entre outras coisas;

– existe um aprofundamento em aspectos como o ambiente em que a ação acontece e o universo psicológico dos personagens (em diferentes medidas, dependendo do nível de protagonismo dele, claro)

– possui diálogos e discursos individualizados e próprios (pois as personagens são construídas de modo complexo e conseguimos diferenciá-las em suas peculiaridades)

Alguns tipos de romance são: de capa e espada, de folhetim, didático, histórico, policial, psicológico, social, epistolar. Mas tem muitos outros.

Quer um exemplo? A obra “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes é considerada uma precursora desse gênero no ocidente. Vale a pena ler esse!

 

Diferenças entre romance e novela

 

Em resumo, dá pra dizer – de uma forma bem simplista – que a novela tem muito comum com o romance, mas é menos aprofundada que ele, já que tem muitos elementos e variantes, mas não atinge o aprofundamento e a abrangência do romance quando se trata de tempo, personagens e enredo.

Embora não haja uma regra que defina o número de páginas que têm esses dois gêneros narrativos, é natural que a novela tenha uma extensão textual menor que o romance. É isso mesmo que você leu: a probabilidade de o calhamaço da novela ser menor é muito grande.

Outra diferença é que, enquanto o romance apresenta um personagem central (ou poucos deles), a novela geralmente traz diversos personagens com enredos e tramas diferentes e com maior nível de independência. O romance pode abrigar, paralelamente, várias ações e núcleos narrativos. No romance, pode acontecer de uma personagem aparecer no meio da narrativa e desaparecer depois de cumprir sua função. Enquanto isso, na novela, o que há é a justaposição de várias ações de forma individualizada. Essa diferença de hierarquia entre os personagens pode ser uma pista se em algum momento você quiser loucamente saber se o livro que você acabou de ler pode ser classificado como romance ou novela. (Quero acreditar que não sou só eu que fico acordada à noite pensando nisso…)

via GIPHY

 

Embora, na novela, você encontre essa independência maior entre os personagens e suas tramas, no romance, a coisa é diferente. Embora haja muitos personagens, todos aqueles que não são os protagonistas acabam girando em torno do enredo principal, sem ter uma história independente e particular pra chamar de sua. Isso acontece, pois o foco é o enredo principal.

Também por isso, o aprofundamento da ambientação (espacial e psicológica) é mais aprofundado no romance, e mais superficial na novela. Enquanto aquele foca em dar o máximo de detalhamento sobre um enredo e poucos protagonistas, essa está voltada a desenvolver a trama (ou melhor, as muitas tramas), e não em dar profundidade aos personagens (o que nem seria possível, tendo em vista que são muitos). Pensa só: se a novela resolvesse dar uma de conto e sair de casa toda aprofundada, teria que ser picada em diversas partes, pois seria tão grande quanto uma enciclopédia. Pera… Vocês são da época em que era estiloso ter a Barsa em casa? Não? Pausa para momento de silêncio pelo termo “são da época de…”  É nessas horas que me dou conta de que tô ficando velha!

 

Enciclopédia Barsa

 

Um exemplo desse gênero é a novela “A Metamorfose”, de Frans Kafka, que ode ser uma grande obra, mas não é tão longa em termos de extensão.

Ainda bem que o livro do Kafka é bem menos extenso que a Barsa, né? Quero saber qual é a sua desculpa pra não ler depois dessa…

 

Ana, e onde fica a telenovela?

 

via GIPHY

 

A telenovela tem núcleos que, muitas vezes, são independentes, um aprofundamento das histórias das personagens e muitas características que estão mais para o romance, que pra novela literária, que é mais ágil. MAS… não dá pra comparar a telenovela de maneira tão estrita com os gêneros literários como a novela ou o romance. Ela é uma história de ficção, desenvolvida no meio televisivo, e tem atrizes e atores que dão vida aos personagens.

É possível criar telenovelas a partir da adaptação de diversas obras literárias, como contos, novelas e romances. Também por isso, não podemos confundir uma novela literária com uma telenovela, apesar do nome ser parecido.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Beleza?

 

Referências

 

COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. 3ª edição (revista e ampliada). Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2020.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Companhia editora nacional, 2008.

https://www.todoestudo.com.br/literatura/romance-e-novela

https://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/6163221

https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/conto-novela-e-romance/11349

https://www.infoescola.com/redacao/tipos-de-textos-narrativos/

Você sabe a diferença entre romance e novela?

https://www.normaculta.com.br/generos-literarios/

https://brasilescola.uol.com.br/literatura/genero-narrativo.htm

https://www.stoodi.com.br/blog/2019/03/27/generos-literarios/

2 Comments

  1. Muito Obrigado pela publicação!

Leave a comment

Your email address will not be published.


*