Citação sem cilada Ep. 1 – Stephen Hawking e o inimigo do conhecimento

Olá!

Se você já foi vítima de uma citação que era cilada, ou se você não quer dar uma dessa no vestibular, leia esse post até o fim, que eu te mostro como se dar bem nesta bagaça!

Esse post inaugura um quadro muito importante pro canal: “Citação sem cilada”. Eu tive essa ideia num dia em que estava numa aula de um curso de especialização que fiz no ano passado. O professor estava falando da escrita de laudos judiciais, e de como era importante ter clareza e objetividade ao redigir esse tipo de documento. Um dos exemplos de coisas que não deveríamos fazer era tirar uma informação ou citação de contexto, principalmente se isso fizesse com que ela aparentemente desse suporte ao que íamos concluir no laudo.

Naquele momento, eu pensei comigo: com certeza os meus alunos também precisam dessas coisas na redação do vestibular! Imagina se eles tiram algo do contexto e o pessoal da banca de correção percebe? Mesmo que tivessem feito isso sem querer, iam perder pontos.

Por isso, vou fazer um post pra cada citação, colocando um pouco do contexto e sobre o que o autor quis dizer com ela. Isso porque acho que não adianta só colocar várias citações num mesmo vídeo, é preciso falar um pouco sobre cada uma delas.

 

Não era citação, era cilada

 

Isso é importante pra que os vestibulandos não usem citações que se voltem contra eles. Já vi muitos casos em que meus alunos faziam citações que, em vez de dar suporte ao que eles argumentavam, na verdade ia contra o que eles estavam dizendo.

Pros universitários e pós-graduandos isso também é ruim, pois esses erros podem prejudicar muito os trabalhos acadêmicos. Imagine se um outro pesquisador lê seu artigo e se dá conta de que você não entendeu a citação que usou? Ou então se você está na sua banca de defesa (apresentando sua dissertação ou tese), e um dos membros dela te diz que você não soube usar os autores que citou e não entendeu o que eles disseram? O que você vai responder?

Inclusive, lembro que no livro “Número Zero”, de Umberto Eco, tem uma parte em que os redatores contratados por um jornal que está começando recebem uma aula sobre como manipular informações e notícias. Entre as recomendações, está uma que autoriza os jornalistas a descontextualizarem tudo o que puder servir para os propósitos questionáveis daquele jornal. Tudo isso bem no estilo da chamada “imprensa marrom”.

 

Então, vamos à citação!

 

Eu escolhi uma citação do cientista Stephen Hawking pra abrir esse quadro. Quando ele faleceu, em março de 2018, eu fiz um post sobre essa citação, e acho que é uma boa hora pra retomá-la. Ela diz o seguinte:

“O maior inimigo do conhecimento não é a ignorância, é a ilusão do conhecimento.”Stephen Hawking (1942 – 2018).

Mas antes de falar um pouco sobre ela, quero traçar um perfil do seu autor.

 

Quem foi Stephen Hawking

 

Stephen Hawking foi um físico teórico britânico, falecido no dia 14 de março de 2018. Ele era um dos mais conhecidos cientistas da atualidade (e isso não mudou com sua morte). Hawking tinha ELA, uma grave doença degenerativa, e costumava falar disso com bom humor, dizendo que não era possível, para ele, sair sem ser reconhecido: “não basta colocar óculos e chapéu. A cadeira de rodas me entrega”. O cientista foi um grande exemplo de superação das adversidades, de bom humor e de preocupação com a divulgação científica. Ao longo de sua carreira, escreveu 14 livros, entre eles “O universo em uma casca de noz” e “Uma breve história do tempo“. Sua trajetória inspirou o filme “A Teoria de tudo” (Universal Pictures, 2014).

Quando você estiver cansado de estudar, dê uma pausa, tome um café, e lembre-se dele. Afinal, se ele conseguiu fazer um trabalho tão importante apesar das dificuldades que enfrentou, foi porque olhou para suas metas, e não para seus problemas. Isso é uma atitude a seguir quando se trata dos seus estudos.

 

Agora sim, vamos à citação:

 

Quando o Hawking afirma que “O maior inimigo do conhecimento não é a ignorância, é a ilusão do conhecimento”, ele está fazendo referência a uma discussão muito importante não só no campo científico, mas também no filosófico. Basicamente, quando as pessoas acham que já sabem de tudo, não se abrem para novos conhecimentos nem para reavaliar o que já tomaram como certo. Esse é o prejuízo causado pela ilusão do conhecimento.

Além disso, também podemos ver duas posturas possíveis perante o conhecimento: a pessoa que tem a ilusão de que sabe alguma coisa, ou que sabe de tudo, e não percebe o quanto ainda tem a aprender, e pessoa que tem a percepção de que seu conhecimento é reduzido – ela sabe que ignora muitas coisas – e, por isso, se mostra mais aberta a novos conhecimentos. Resumindo: quem acha que já sabe tudo tem dificuldade em absorver novos conhecimentos, enquanto que quem tem a noção de que sabe pouco olha para as novas informações com menos resistência.

No decorrer da história da ciência no ocidente, foram muitas as quebras de paradigma (Thomas Kuhn, “A estrutura das revoluções científicascolocar link) que desafiaram pessoas de ambas as posturas. Por exemplo, no século XVII, quando Galileu Galilei foi condenado pelo Tribunal da Inquisição por heresia por conta de suas pesquisas apontarem para o fato de que era a terra que girava em torno do sol (heliocentrismo), e não o contrário (geocentrismo), estava em jogo um paradigma que estava sendo quebrado.

Trazendo isso para o presente, precisamos nos dar conta de que ainda temos paradigmas a quebrar. Quando Stephen Hawking afirmou que a ilusão de que já se sabe de tudo é mais prejudicial ao conhecimento do que o fato de existir algo que não sabemos, ele está falando justamente sobre como escolhemos encarar o que aprendemos de novo. Podemos rejeitar ou nos abrir para novas descobertas.

Na sua redação do vestibular, você pode usar essa citação sempre que a proposta envolver paradigmas que devem ser quebrados para que uma situação melhore. Isso pode se dar não só no campo da ciência e da tecnologia, mas também no da ética, da política, da sociedade, da economia, etc. A frase tem muito a ver com a necessidade de remover preconceitos a respeito de algo para dar lugar a uma visão/ação mais justa e esclarecida que resolva o problema que a proposta aborda.

E aí, ficou com alguma dúvida? Comente aqui com a hashtag #perguntepraana.

Vou ficando por aqui!

Beijo da Ana!

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