Tá Difícil? A Gente Explica – Capitães da areia

Caricatura de Jorge Amado. Autor: André Koehne. CC 3.0

Oie = )

Bora pra mais uma obra da invejável literatura brasileira?

 

Tá difícil? A gente explica!

A convite de dois amigos queridíssimos – a Josi e o Diogo -, estou participando do projeto “Tá difícil? A gente explica!”, que é uma proposta transdisciplinar para facilitar a vida do querido estudante que tá na berlinda do vestibular.

O que é que o projeto tem? Tem trechos de filmes, leitura dramática de partes do livro, percussão e sonoplastia, e tudo o que precisar pra dominar o mundo. E depois, rola ainda uma roda de conversa pra discutir os aspectos da obra diretamente ligados ao vestibular.

via GIPHY

 

Olha que a equipe é ótima:

  • Joseane Alfer, mestre e doutoranda em Estética e História da Arte,
  • Diogo Gomes, diretor, produtor de cinema e teatro, além de mestrando em Estética e História da Arte,
  • Carolina Velloza, mestre em História Social pela Usp,
  • Oswaldo Faustino, escritor, ator, jornalista, palestrante,
  • e a Ana aqui, que é professora de redação, fundadora do Escrevendo sem Medo!, mestre e doutora em Estética e História da Arte

Onde isso, Ana?

Sesc Jundiaí

 (011) 4583-4900

 Avenida Antônio Frederico Ozanan, 6600, (-), Jardim Botânico – Jundiaí/SP

Nessa terça, que foi dia 01 de outubro, falamos do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas. Pra complementar o que foi colocado no evento, aqui vai um material pra te ajudar a aprofundar seus conhecimentos sobre o Machadão, a obra em questão e o contexto literário do realismo, em que está inserido o romance.

Ah, que festa da literatura!

A obra: Capitães da Areia

  • Publicado em 1937.
  • Narra as aventuras de meninos de rua lutando pela sobrevivência
  • Contexto político: Estado Novo (tensão, perseguições e prisões eram constantes)
  • Exemplares queimados em praça pública
  • Narrativa de teor comunista declarado (o autor era do Partido Comunista)
  • Tentativa de conscientização por parte do autor em relação ao leitor
    • Denuncia os males de uma sociedade marcada pela lógica capitalista que vira as costas para os pobres
  • Foco narrativo – terceira pessoa
  • Segunda fase do Modernismo no Brasil, período literário marcado pelo engajamento político e social por parte dos autores da época.
  • Abordagem da região Nordeste do país
  • Destaques:
    • Dilema do Sem Pernas
    • Prisão de Pedro Bala e Dora
  • Desfecho: destino dos personagens do grupo

 

Os Capitães da Areia: personagens

  • Pedro Bala – líder do bando. Menino ágil, com um forte senso de justiça. Órfão. Pai morto numa greve.
  • Professor – braço direito de Bala no comando do grupo. Inteligência, gosto pela leitura (era o único do bando que sabia ler) e talento artístico.
  • Gato – malandragem. Sexualidade aflorada, se envolvendo, ao longo da obra, com uma prostituta mais velha que ele.
  • Sem-Pernas – personagem mais complexo na obra. Seus conflitos internos são demasiadamente mais profundos que os dos demais. É manco.
  • Volta-Seca – representação da cultura sertaneja. Admirador declarado do cangaceiro Lampião, tem atitudes que fazem os próprios Capitães sentirem medo.
  • João Grande – amável, dócil. Marcado pelo cuidado com os mais frágeis dentro do grupo.
  • Boa-Vida – malandragem diferente da do Gato, pois se esquiva do trabalho, prezando pelo constante descanso.
  • Pirulito – instância religiosa da narrativa. Seu sonho é ser padre.
  • Dora – única menina do grupo. Figura feminina de cuidadora (uma analogia direta à figura de mãe). Dora e Pedro Bala iniciam um romance.

E os personagens adultos, que gravitam, no enredo, em torno dos Capitães:

  • João de Adão – organizador de greves que apresenta a Bala os ideais das lutas dos trabalhadores.
  • Dalva – uma prostituta mais velha que se envolve com Gato.
  • Padre José Pedro – origem humilde. Assume a missão de levar conforto espiritual às crianças abandonadas da cidade.
  • Querido-de-Deus – grande capoeirista da Bahia, respeita o grupo liderado por Pedro Bala e é respeitado por ele. Ensina sua arte para alguns deles.
  • Don’ Aninha – mãe-de-santo, comanda o terreiro frequentado por Querido-de-Deus e João Grande. Muito respeitada por eles.

Caricatura de Jorge Amado. Autor: André Koehne. CC 3.0

O autor: Jorge Amado

  • Nasceu 1912, município de Itabuna, sul do Estado da Bahia. Faleceu em 2001 em Salvador.
  • Formou-se em Direito no Rio de Janeiro em 1935.
  • Militante comunista, foi obrigado a exilar-se na Argentina e no Uruguai entre 1941 e 1942
  • 1945 – eleito membro da Assembleia Nacional Constituinte, na legenda do Partido Comunista Brasileiro (PCB)
  • Em 1947, o PCB foi declarado ilegal e seus membros perseguidos e presos. Jorge Amado teve que se exilar com a família na França e em Praga.
  • Em 1955, volta ao Brasil e se dedica inteiramente à literatura. Entra para a Academia Brasileira de Letras.
  • Inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão. Seus livros foram traduzidos para 49 idiomas.

O filme

Em 2011 foi lançado o filme Capitães da Areia, baseado no livro do mesmo nome do Jorge Amado.  Dirigido por Cecília Amado, neta do escritor baiano, o filme foi lançado no ano em que foram comemorados 10 anos da morte dele e deu início às comemorações do seu centenário. Fiquem com o trailer só pra dar um gostinho:

Caiu no Vestibular

1. (ITA) Sobre o romance “Capitães da Areia”, de Jorge Amado, é INCORRETO afirmar que: 
a) se trata de um livro cuja personagem central é coletiva, um grupo de meninos de rua, e isso o aproxima de “O cortiço”, de Aluísio Azevedo. 
b) as principais personagens masculinas são Pedro Bala, Sem Pernas, Volta Seca, Pirulito e Professor, e a figura feminina central é Dora. 
c) há uma certa herança naturalista, visível na precoce e promíscua vida sexual dos adolescentes. 
d) os vestígios românticos aparecem em algumas cenas de jogos e brincadeiras infantis e na caracterização de Dora. 
e) todos os meninos acabam encontrando um bom rumo na vida, apesar das dificuldades.

2. (UFPE) “Irmão … é uma palavra boa e amiga. Se acostumaram a chamá-la de irmã. Ela também os trata de mano, de irmão. Para os menores é como uma mãezinha. Cuida deles. Para os mais velhos é como uma irmã que brinca inocentemente com eles e com eles passa os perigos da vida aventurosa que levam.
Mas nenhum sabe que para Pedro Bala, ela é a noiva. Nem mesmo o Professor sabe. E dentro do seu coração Professor também a chama de noiva.”
(Jorge Amado: “Capitães da Areia”).

Considerando a obra e o autor do texto, assinale a alternativa INCORRETA.
a) O autor faz parte do romance regional de 30, quando se aprofundaram as radicalizações políticas na realidade brasileira.
b) Jorge Amado representa a Bahia, “descobrindo” mazelas, violências e identificando grupos marginalizados e revolucionários em “Capitães da Areia”.
c) Dora, Pedro Bala e Professor são alguns dos personagens da narrativa, que aborda a dramática vida dos camponeses das fazendas de cacau no sul da Bahia.
d) O tom da narrativa aproxima-se do Naturalismo, alternando trechos de lirismo e crueza. O nível de linguagem é coloquial e popular.
e) “Capitães da Areia ” pertence à primeira fase da produção de Jorge Amado, quando era notório seu engajamento com a política de esquerda. Daí o esquematismo psicológico: o mundo dividido em heróis (o povo) e bandidos (a burguesia).

 

3. (FUVEST) Inimigo da riqueza e do trabalho, amigo das festas, da música, do corpo das cabrochas. Malandro. Armador de fuzuês. Jogador de capoeira navalhista, ladrão quando se fizer preciso.
Jorge Amado, Capitães de areia.
O tipo cujo perfil se traça, em linhas gerais, neste excerto, aparece em romances como Memórias de um sargento de milícias, O cortiço, além de Capitães de areia. Essa recorrência indica que

a) certas estruturas e tipos sociais originários do período colonial foram repostos durante muito tempo, nos processos de transformação da sociedade brasileira.
b) o atraso relativo das regiões Norte e Nordeste atraiu para elas a migração de tipos sociais que o progresso expulsara do Sul/Sudeste.
c) os romancistas brasileiros, embora críticos da sociedade, militaram com patriotismo na defesa de nossas personagens mais típicas e mais queridas.
d) certas ideologias exóticas influenciaram negativamente os romancistas brasileiros, fazendo-os representar, em suas obras, tipos sociais já extintos quando elas foram escritas.
e) a criança abandonada, personagem central dos três livros, torna-se, na idade adulta, um elemento nocivo à sociedade dos homens de bem.

 

4. (FUVEST 2010)  Por caminhos diferentes, tanto Pedro Bala (de Capitães de areia, de Jorge Amado) quanto o operário (do conhecido poema “O operário em construção”, de Vinícius de Moraes) passam por processos de “aquisição de uma consciência política” (expressão do próprio Vinícius). O contexto dessas obras indica também que essa conscientização leva ambos a:

a) exclusão social, que arruína precocemente suas promissoras carreiras profissionais.
b) sublimação intelectual do ímpeto revolucionário, motivada pelo contato com estudantes.
c) condição de meros títeres, manipulados por partidos políticos oportunistas.
d) luta, em associação com seus pares de grupo ou de classe social, contra a ordem vigente.
e) cumplicidade com criminosos comuns, com o fito de atacar as legítimas forças de repressão.

 

5- O romance Capitães da Areia, de Jorge Amado, é um documento sobre a vida dos meninos de rua de Salvador. A sua primeira edição (1937) foi apreendida e queimada em praça pública pouco depois de implantada a ditadura de Getúlio Vargas. No trecho a seguir, o narrador nos conta como Pedro Bala, aos quinze anos, assumiu a liderança de um grupo que dormia num velho armazém abandonado do cais do porto.“É aqui também que mora o chefe dos Capitães da Areia: Pedro Bala. Desde cedo foi chamado assim, desde seus cinco anos. Hoje tem quinze anos. Há dez que vagabundeia nas ruas da Bahia. Nunca soube de sua mãe, seu pai morrera de um balaço. Ele ficou sozinho e empregou anos em conhecer a cidade. Hoje sabe de todas as suas ruas e de todos os seus becos. Não há venda, quitanda, botequim que ele não conheça. Quando se incorporou aos Capitães da Areia (o cais recém-construído atraiu para suas areias todas as crianças abandonadas da cidade) o chefe era Raimundo, o Caboclo, mulato avermelhado e forte.

“Não durou muito na chefia o caboclo Raimundo. Pedro Bala era muito mais ativo, sabia planejar os trabalhos, sabia tratar com os outros, trazia nos olhos e na voz a autoridade de chefe. Um dia brigaram. A desgraça de Raimundo foi puxar uma navalha e cortar o rosto de Pedro, um talho que ficou para o resto da vida. Os outros se meteram e como Pedro estava desarmado deram razão a ele e ficaram esperando a revanche, que não tardou. Uma noite, quando Raimundo quis surrar Barandão, Pedro tomou as dores do negrinho e rolaram na luta mais sensacional a que as areias do cais jamais assistiram. Raimundo era mais alto e mais velho. Porém Pedro Bala, o cabelo loiro voando, a cicatriz vermelha no rosto, era de uma agilidade espantosa e desde esse dia Raimundo deixou não só a chefia dos Capitães da areia, como o próprio areal. Engajou tempos depois num navio.

Todos reconheceram os direitos de Pedro Bala à chefia, e foi dessa época que a cidade começou a ouvir falar nos Capitães da areia, crianças abandonadas que viviam do furto.”

Jorge Amado, Capitães da Areia, 50a ed.
Rio de Janeiro: Record, 1980, P. 26/7.

Pela leitura do texto, pode-se concluir que o romance pretende denunciar que tipo de problema?
a) um problema econômico. (desvalorização do dinheiro);
b) um problema de identidade. (sem pai e sem mãe);
c) um problema de social. (vagabundo, preguiçoso);
d) um problema educacional (falta de instrução);
e) um problema social ( a questão do menor abandonado).

 

6. UFR-RJ
O preto Henrique tomou o caneco das mãos da preta velha e bebeu dois tragos.
– Ainda tá quente, meu filho? É o restinho…
– Tá, tia. Bota mais.
Quando acabou, disse:
– Você lembra dessas histórias que você sabe, minha tia?
– Que histórias?
– Essas histórias de escravidão…
– O que é que tem?
– Você vai esquecer elas todas.
– Quando?
– No dia em que nós for dono disso…
– Dono de quê?
– Disso tudo… Da Bahia… do Brasil…
– Como é isso, meu filho?
– Quando a gente não quiser mais ser escravo dos ricos, titia, e acabar com eles…
– Quem é que vai fazer feitiço tão grande pros ricos ficar tudo pobre?
– Os pobres mesmo, titia.
– Negro é escravo. Negro não briga com branco. Branco é senhor dele.
– O negro é liberto, tia.
– Eu sei. Foi a Princesa Isabel, no tempo do Imperador. Mas negro continua a
respeitar o branco…
– Mas a gente agora livra o preto de vez, velha.
– Você sabe qual é a coisa mais melhor do mundo, Henrique?
– Não.
– Não sabe o que é? É cavalo. Se não fosse cavalo, branco montava em negro…
AMADO, Jorge. Suor. Rio de Janeiro: Record, 1984, 43. ed., p. 43-44. Adaptado.


O cenário predominante na obra do escritor Jorge Amado é o estado da Bahia. Sua produção é dividida pelos críticos literários em várias fases. O texto lido pode ser enquadrado na fase:
a)
 do romance proletário, que denuncia a miséria e a opressão das classes populares.
b) 
dos depoimentos sentimentais, baseados em rixas e amores de marinheiros.
c)
de pregação partidária, que inclui biografias de pessoas defensoras de maior justiça social.
d)
de textos de tom épico, que retratam as lutas entre coronéis e trabalhadores da região do cacau.
e)
do relato de costumes provincianos, que mostram o lado pitoresco do povo baiano.

Gabarito

  1. e
  2. c
  3. a
  4. d
  5. e
  6. a

 

Fontes consultadas

http://www.jorgeamado.org.br/?page_id=75

https://geekiegames.geekie.com.br/blog/capitaes-da-areia-resumo/

http://origin.guiadoestudante.abril.com.br/estudar/literatura/materia_418619.shtml

https://capitaesdaareia.weebly.com/rsp-8.html

Leave a comment

Your email address will not be published.


*