Tá difícil? A gente explica! – O Cortiço

Aluísio de Azevedo
Aluísio de Almeida. - VERÍSSIMO, José. História da Literatura.

E aí, destemidos! Tudo bem?

Nesse post, temos mais uma obra do projeto “Tá difícil? A gente explica!”, que está rolando no SESC Jundiaí nesse mês de outubro.

Quem estava por lá nessa última terça conheceu a Carolina Velloza, que estava com o pessoal pra falar da obra “O Cortiço”, de Aluísio de Azevedo. Foi ela que preparou esse super material pra vocês!

Nos episódios anteriores, já tivemos as obras Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e Capitães da Areia, de Jorge Amado.

Tá difícil? A gente explica!

A convite de dois amigos queridíssimos – a Josi e o Diogo -, estou participando do projeto “Tá difícil? A gente explica!”, que é uma proposta transdisciplinar para facilitar a vida do querido estudante que tá na berlinda do vestibular.

O que é que o projeto tem? Tem trechos de filmes, leitura dramática de partes do livro, percussão e sonoplastia, e tudo o que precisar pra dominar o mundo. E depois, rola ainda uma roda de conversa pra discutir os aspectos da obra diretamente ligados ao vestibular.

Olha que a equipe é ótima:

  • Joseane Alfer, mestre e doutoranda em Estética e História da Arte,
  • Diogo Gomes, diretor, produtor de cinema e teatro, além de mestrando em Estética e História da Arte,
  • Carolina Velloza, mestre em História Social pela Usp,
  • Oswaldo Faustino, escritor, ator, jornalista, palestrante,
  • e a Ana aqui, que é professora de redação, fundadora do Escrevendo sem Medo!, mestre e doutora em Estética e História da Arte

Onde isso, Ana?

Sesc Jundiaí

(011) 4583-4900

Avenida Antônio Frederico Ozanan, 6600, (-), Jardim Botânico – Jundiaí/SP

Bora pra obra!

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A obra: O Cortiço

  • Considerado um Romance-Tese, por isso, o seus personagens são ”personagens-tipo”;
  • Obra em temporalidade linear;
  • Narrador onisciente;
  • O grande protagonista dessa obra não são os personagens, mas o próprio cortiço que é uma espécie de corpo humanizado, enquanto os moradores são humanos animalizados;
  • O livro traz linguagem simples e expressões populares;
  • O livro está ambientado no Rio de Janeiro, antes da abolição da escravatura.

Personagens

  • O cortiço: meio humanizado que determina o destino dos personagens que nele se instalam;
  • João Romão: símbolo máximo do capitalismo (como doença social), é português e não mede esforços para ter riqueza e poder. Ele bebe e come mal, assim como usa roupas em trapos com o objetivo de acumular mais dinheiro. João Romão engana e se aproveita de todos que passam por seu caminho;
  • Bertoleza: mulher escravizada, fugida, que se envolve com João Romão e lhe confia todas as suas riquezas (que acumulava para comprar sua alforria). Bertoleza é enganada por João Romão, que lhe apresenta falsa carta de alforria, e acredita estar livre na maior parte da narrativa. Ela se envolve com João Romão, de acordo com o livro, porque nele vê uma raça superior (branco e português). Ela acaba a narrativa tragicamente, se matando, depois que João Romão a denuncia para se poder se casar com a filha de Miranda;
  • Miranda: português vizinho de João Romão e do cortiço, é representação do burguês ascendente. Ele vive uma vida de aparências (sua mulher o traí, por exemplo). Ele receberá o título de Barão na narrativa. Miranda começa o livro como antagonista de João Romão, mas acaba a história como seu aliado, casando sua filha Zulmira com ele;
  • Pombinha: metáfora da pureza, a menina passa boa parte da história a espera de suas regras (menstruação) para que possa se casar com um comerciante e assim sustentar a si e a sua mãe. Ela é, contudo, corrompida por Leone, uma prostituta amiga de sua mãe com quem tem uma experiência sexual;
  • Rita Baiana: é a mulata mais sedutora do cortiço. Rita Baiana vive uma vida mansa, sumindo de quando em vez, ditada pelos desejos. Ela começa o livro envolvida com Firmo, um capoeirista, mas termina o livro com Jerônimo, português trabalhador corrompido pelo cortiço e por Rita Baiana
  • Jerônimo: é um português trabalhador, que trabalha para João Romão em sua pedreira. Jerônimo começa o livro como a metáfora do bom marido e pai e termina a narrativa ao lado de Rita Baiana, largando sua mulher e descuidando de sua filha para viver uma vida mansa, abrasileirada.

Cotexto literário: Naturalismo x Realismo

O movimento naturalista é considerado um “braço” ou um “exagero” do movimento realista.

Realismo

  • Reação ao romantismo, busca retratar a realidade de forma mais crítica e real
  • Está, geralmente, ligado ao modo de vida da burguesia
  • É influenciado pelo positivismo (ciência como única forma de conhecimento verdadeiro)
  • Contexto social: surgimento da república e de ideias abolicionistas e revolução industrial

Naturalismo

  • “Exagero” do realismo, traz cenas muito sensoriais, fortes, animalizadas
  • Trabalha com grupos populares e com o proletariado como protagonista
  • Atenção especial para as caraterísticas deterministas do positivismo. O homem é determinado por seu meio, contexto social e raça/classe.

Aluísio de Almeida. – VERÍSSIMO, José. História da Literatura.

O autor: Aluísio de Azevedo

  • Nasceu em 14 de abril de 1857, em São Luís, capital do Maranhão;
  • Seus pais não eram oficialmente casados, o que causou escândalo social;
  • Trabalhou como caricaturista para diversos jornais no Rio de Janeiro;
  • Seu primeiro livro é publicado em 1879;
  • Contribui com o Jornal “0 Pensador” anticlerical e abolicionista;
  • Em 1881 publica a obra “O Mulato” marco inicial do naturalismo brasileiro;
  • Em 1890 publica “o Cortiço” obra máxima do naturalismo brasileiro e pesada crítica social;
  • Suas publicações são influenciadas pelo movimento naturalista francês e português;

O filme

Pra quem estava se perguntando se dessa vez também tinha filme, aqui está ele! A obra do Aluísio de Azevedo teve uma adaptação pro cinema que foi lançada em 1978, com roteiro e direção de Francisco Ramalho Jr.

Você pode conferir o filme todo no Youtube:

Caiu no Vestibular

  1. (UEL)

Texto 1

De cada casulo espipavam homens armados de pau, achas de lenha, varais de ferro. Um empenho coletivo os agitava agora, a todos, numa solidariedade briosa, como se ficassem desonrados para sempre se a polícia entrasse ali pela primeira vez. Enquanto se tratava de uma simples luta entre dois rivais, estava direito! ‘Jogassem lá as cristas, que o mais homem ficaria com a mulher!’ mas agora tratava-se de defender a estalagem, a comuna, onde cada um tinha a zelar por alguém ou alguma coisa querida.

(AZEVEDO, Aluísio, O cortiço. 26. ed. São Paulo: Martins, 1974. p. 139.)

Texto 2

O cortiço é um romance de muitas personagens. A intenção evidente é a de mostrar que todas, com suas particularidades, fazem parte de uma grande coletividade, de um grande corpo social que se corrói e se constrói simultaneamente.

(FERREIRA, Luiz Antônio. Roteiro de leitura: O cortiço de Aluísio Azevedo. São Paulo: Ática, 1997. p. 42.)

Sobre os textos, assinale a alternativa correta.

a) No Texto 1, por ser ele uma construção literária realista, há o predomínio da linguagem referencial, direta e objetiva; no Texto 2, por ser ele um estudo analítico do romance, há o predomínio da linguagem estética, permeada de subentendidos.

b) A afirmação contida no Texto 2 explicita o modo coletivo de agir do cortiço, algo que também se observa no Texto 1, o que justifica o prevalecimento de um termo coletivo como título do romance.

c) Tanto no Texto 1 quanto no Texto 2 há uma visão exacerbada e idealizada do cortiço, sendo este considerado um lugar de harmonia e justiça.

d) No Texto 1 prevalece a desagregação e corrosão da grande coletividade a que se refere o Texto 2.

e) O que se afirma no Texto 2 vai contra a idéia contida no Texto 1, visto que no cortiço jamais existe união entre os seus moradores.

2) (ITA) Leia as proposições acerca de O Cortiço.

I. Constantemente, as personagens sofrem zoomorfização, isto é, a animalização do comportamento humano, respeitando os preceitos da literatura naturalista.
II. A visão patológica do comportamento sexual é trabalhada por meio do rebaixamento das relações, do adultério, do lesbianismo, da prostituição etc.
III. O meio adquire enorme importância no enredo, uma vez que determina o comportamento de todas as personagens, anulando o livre-arbítrio.
IV. O estilo de Aluísio Azevedo, dentro de O Cortiço, confirma o que se percebe também no conjunto de sua obra: o talento para retratar agrupamentos humanos.

Está(ão) correta(s):

a) todas.
b) apenas I.
c) apenas I e II.
d) apenas I, II e III.
e) apenas III e IV.

3)  (UFV-MG) Leia o texto abaixo, retirado de O Cortiço, e faça o que se pede:

Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo.
[…].
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.

AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 15. ed. São Paulo: Ática, 1984. p. 28-29.

Assinale a alternativa que NÃO corresponde a uma possível leitura do fragmento citado:

a) No texto, o narrador enfatiza a força do coletivo. Todo o cortiço é apresentado como um personagem que, aos poucos, acorda como uma colméia humana.
b) O texto apresenta um dinamismo descritivo, ao enfatizar os elementos visuais, olfativos e auditivos.
c) O discurso naturalista de Aluísio Azevedo enfatiza nos personagens de O Cortiço o aspecto animalesco, “rasteiro” do ser humano, mas também a sua vitalidade e energia naturais, oriundas do prazer de existir.
d) Através da descrição do despertar do cortiço, o narrador apresenta os elementos introspectivos dos personagens, procurando criar correspondências entre o mundo físico e o metafísico.
e) Observa-se, no discurso de Aluísio Azevedo, pela constante utilização de metáforas e sinestesias, uma preocupação em apresentar elementos descritivos que comprovem a sua tese determinista.

4) (UNIFESP) A questão a seguir baseia-se no seguinte fragmento do romance O cortiço (1890), de Aluísio Azevedo (1857-1913):

O cortiço

Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo. Homens e mulheres corriam de cá para lá com os tarecos ao ombro, numa balbúrdia de doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões espocados. Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa do Barão saíam clamores apopléticos; ouviam-se os guinchos de Zulmira que se espolinhava com um ataque. E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.
Os sinos da vizinhança começaram a badalar.
E tudo era um clamor.
A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca.
Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada, que abateu rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas.

(Aluísio Azevedo. O cortiço)

Em O cortiço, o caráter naturalista da obra faz com que o narrador se posicione em terceira pessoa, onisciente e onipresente, preocupado em oferecer uma visão crítico-analítica dos fatos. A sugestão de que o narrador é testemunha pessoal e muito próxima dos acontecimentos narrados aparece de modo mais direto e explícito em:

a) Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo.
b) Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.
c) Da casa do Barão saíam clamores apopléticos…
d) A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa.
e) Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada…

5) FUVEST 2012 – Primeira Fase)

Passaram-se semanas. Jerônimo tomava agora, todas as manhãs, uma xícara de café bem grosso, à moda da Ritinha, e tragava dois dedos de parati “pra cortar a friagem”.

Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos, num trabalho misterioso e surdo de crisálida. A sua energia afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo e amoroso. A vida americana e a natureza do Brasil patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; esquecia-se dos seus primitivos sonhos de ambição, para idealizar felicidades novas, picantes e violentas; tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais amigo de gastar que de guardar; adquiria desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso, resignando-se, vencido, às imposições do sol e do calor, muralha de fogo com que o espírito eternamente revoltado do último tamoio entrincheirou a pátria contra os conquistadores aventureiros.

E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo abrasileirou-se. (…)

E o curioso é que, quanto mais ia ele caindo nos usos e costumes brasileiros, tanto mais os seus sentidos se apuravam, posto que em detrimento das suas forças físicas. Tinha agora o ouvido menos grosseiro para a música, compreendia até as intenções poéticas dos sertanejos, quando cantam à viola os seus amores infelizes; seus olhos, dantes só voltados para a esperança de tornar à terra, agora, como os olhos de um marujo, que se habituaram aos largos horizontes de céu e mar, já se não revoltavam com a turbulenta luz, selvagem e alegre, do Brasil, e abriam-se amplamente defronte dos maravilhosos despenhadeiros ilimitados e das cordilheiras sem fim, donde, de espaço a espaço, surge um monarca gigante, que o sol veste de ouro e ricas pedrarias refulgentes e as nuvens toucam de alvos turbantes de cambraia, num luxo oriental de arábicos príncipes voluptuosos

Aluísio Azevedo, O cortiço.

Destes comentários sobre os trechos sublinhados (negritados), o único que está correto é:

a) “tragava dois dedos de parati” (L. 3): expressão típica da variedade linguística predominante no discurso do narrador.

b) “‘pra cortar a friagem’” (L. 3 e 4): essa expressão está entre aspas, no texto, para indicar que se trata do uso do discurso indireto livre.

c) “patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos” (L. 10 e 11): assume o sentido de “registravam oficialmente”.

d) “posto que em detrimento das suas forças físicas” (L. 26 e 27): equivale, quanto ao sentido, a “desde que em favor”.

e) “tornava-se (…) imprevidente” (L. 13 e 14) e “resignando-se (…) às imposições do sol” (L. 16 e 17): trata-se do mesmo prefixo, apresentando, portanto, idêntico sentido.

Gabarito

  1. B
  2. A
  3. D
  4. E
  5. B

Fontes pesquisadas

https://pt.wikipedia.org/wiki/Alu%C3%ADsio_Azevedo#/media/Ficheiro:Aluisio_Azevedo.jpg

https://www.mundovestibular.com.br/estudos/portugues/o-cortico-exercicios-de-portugues

https://descomplica.com.br/blog/literatura/exercicios-o-cortico/

https://rachacuca.com.br/educacao/vestibular/tags/literatura/o-cortico/

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