Tá difícil? A gente explica! – Vidas Secas

Graciliano, na livraria José Olympio no Rio de Janeiro, em 1942 Arquivo IEB / USP / Fundo Graciliano Ramos / GR-F01

Oie, pessoa destemida!

 

É hoje! Aqui vai a última das obras analisadas na edição de 2019 do Tá difícil? A gente explica!

 

Tá difícil? A gente explica!

 

A convite de dois amigos queridíssimos – a Josi e o Diogo -, estou participando do projeto “Tá difícil? A gente explica!”, que é uma proposta transdisciplinar para facilitar a vida do querido estudante que tá na berlinda do vestibular.

O que é que o projeto tem? Tem trechos de filmes, leitura dramática de partes do livro, percussão e sonoplastia, e tudo o que precisar pra dominar o mundo. E depois, rola ainda uma roda de conversa pra discutir os aspectos da obra diretamente ligados ao vestibular.

 

Olha que a equipe é ótima:

  • Joseane Alfer, mestre e doutoranda em Estética e História da Arte,
  • Diogo Gomes, diretor, produtor de cinema e teatro, além de mestrando em Estética e História da Arte,
  • Carolina Velloza, mestre em História Social pela Usp,
  • Oswaldo Faustino, escritor, ator, jornalista, palestrante,
  • e a Ana aqui, que é professora de redação, fundadora do Escrevendo sem Medo!, mestre e doutora em Estética e História da Arte

Onde isso, Ana?

Sesc Jundiaí

 (011) 4583-4900

 Avenida Antônio Frederico Ozanan, 6600, (-), Jardim Botânico – Jundiaí/SP

Nessa terça, que foi dia 01 de outubro, falamos do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas. Pra complementar o que foi colocado no evento, aqui vai um material pra te ajudar a aprofundar seus conhecimentos sobre o Machadão, a obra em questão e o contexto literário do realismo, em que está inserido o romance.

 

Nos episódios anteriores, já tivemos as obras Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, Capitães da Areia, de Jorge Amado, O Cortiço, de Aluísio de Azevedo e Sagarana, de João Guimarães Rosa.

Está acabando, mas calma aí, que você agora vai ficar na companhia desses livros todos, que vale a pena ler pra vida!

via GIPHY

 

A obra: Vidas Secas

  • Obra mais conhecida do escritor – publicada em 1938
  • Publicada após libertação da prisão (por acusações de comunismo), em um jornal do Rio de Janeiro.
  • Segunda fase do modernismo brasileiro -“romance de 30” ou “neorrealismo regionalista”
  • Vidas Secas  – regionalismo é físico, concreto, fruto de uma visão realista
  • Vidas secas narra a história de uma família de retirantes nordestinos em sua constante luta pela sobrevivência
  • Estrutura cíclica – livro começa e termina com a família na mesma situação de retirantes, como se tivessem voltado ao mesmo ponto de partida.
  • Espaço: o sertão nordestino
  • Foco narrativo: 3ª pessoa (narrador onisciente). Mas o leitor tem a impressão de que a narrativa é feita pelas personagens do livro, em primeira pessoa.
  • Discurso indireto livre – mostrar a fala ou pensamento das personagens inseridos diretamente no discurso do narrador.
  • Capítulos-contos – Pai, mãe, filho mais velho, filho mais novo, Baleia, papagaio
  • Andam em direção ao sul, sem destino certo, procurando um lugar com água e comida para sobreviver. Acabam chegando a uma fazenda abandonada, encontram um pouco de água e algumas raízes para comer.
  • Miséria desta família: Fabiano é humilhado e roubado pelo dono da fazenda, as crianças vivem em condições animalescas e não aprendem a falar direito.

Personagens

  • Fabiano, que vive a angústia de se saber inferior por não conseguir falar com clareza, questionando-se constantemente se é um bicho ou um homem.
  • Sinhá Vitória – constante frustração do sonho de ter uma cama de lastro (metáfora para o desejo de ter um lugar definitivo e seu para viver)
  • Os meninos, que vivem a angústia de não terem como satisfazer a sua curiosidade natural ou a falta de perspectiva para o futuro
  • A cachorra Baleia (que morra de fome) e o papagaio (que é comido pela família, em meio à fome)
  • Há, ainda, outros personagens coadjuvantes, como o Seu Tomás da Bolandeira (mesmo sendo pobre, sabia ler e escrever e dormia numa cama de lastro de couro, sendo referência para Siná Vitória e Fabiano) e o patrão de Fabiano, que o explorava na vanda dos animais da fazenda.

 

Graciliano, na livraria José Olympio no Rio de Janeiro, em 1942
Arquivo IEB / USP / Fundo Graciliano Ramos / GR-F01

 

O autor: Graciliano Ramos

  • Quebrângulo (Alagoas), 1892 – Rio de Janeiro – 1953
  • Quando terminou o segundo grau, em 1914, seguiu para o Rio de Janeiro. Trabalhou como revisor dos jornais “Correio da Manhã”, “O Século” e “A Tarde”.
  • Atuou na carreira política – eleito prefeito da cidade de Palmeira dos Índios (1928 – 1930).
  • A partir de 1930 assume a direção da Imprensa Oficial e da Instrução Pública do Estado em Maceió
  • Escreveu romances, contos, crônicas, literatura infanto-juvenil
  • Estilo marcado pela concisão e secura da linguagem: frases curtas e objetivas, sem adjetivação desnecessária e supérflua.
  • Crítica: identificação entre o estilo seco do autor e a temática de secura e carência da obra Vidas Secas.
  • Denúncia das injustiças sociais – explora também o drama psicológico de seus personagens.

 

Filme

Em 1963, foi lançado filme Vidas Secas, que foi adaptado da obra de Graciliano Ramos que leva o mesmo nome. A direção é de Nelson Pereira dos Santos e as filmagens foram feitas no sertão de Alagoas. Vale a pena destacar que esse filme se tornou um dos mais conhecidos do movimento chamado de Cinema Novo, que abordava problemas sociais do Brasil. Além disso, foi premiado no Festival de Cannes em 1964, na França. Super chique, né?

Felizmente, dá pra encontrar o filme integralmente disponível no Youtube =)


 

Caiu no Vestibular

1. (FUVEST) Leia o trecho para responder ao teste.

“Fizeram alto. E Fabiano depôs no chão parte da carga, olhou o céu, as mãos em pala na testa. Arrastara-se até ali na incerteza de que aquilo fosse realmente mudança. Retardara-se e repreendera os meninos, que se adiantavam, aconselhara-os a poupar forças. A verdade é que não queria afastar-se da fazenda. A viagem parecia-lhe sem jeito, nem acreditava nela. Preparara-a lentamente, adiara-a, tornara a prepará-la, e só se resolvera a partir quando estava definitivamente perdido. Podia continuar a viver num cemitério? Nada o prendia àquela terra dura, acharia um lugar menos seco para enterrar-se. Era o que Fabiano dizia, pensando em coisas alheias: o chiqueiro e o curral, que precisavam conserto, o cavalo de fábrica, bom companheiro, a égua alazã, as catingueiras, as panelas de losna, as pedras da cozinha, a cama de varas. E os pés dele esmoreciam, as alpercatas calavam-se na escuridão. Seria necessário largar tudo? As alpercatas chiavam de novo no caminho coberto de seixos.” (Vidas secas, Graciliano Ramos)

Assinale a alternativa incorreta:

a) O trecho pode ser compreendido como suspensão temporária da dinâmica narrativa, apresentando uma cena “congelada”, que permite focalizar a dimensão psicológica da personagem.
b) Pertencendo ao último capítulo da obra, o trecho faz referência tanto às conquistas recentes de Fabiano, quanto à desilusão do personagem ao perceber que todo seu esforço fora em vão.
c) A resistência de Fabiano em abandonar a fazenda deve-se à sua incapacidade de articular logicamente o pensamento e, portanto, de perceber a gradual mas inevitável chegada da seca.
d) A expressão “coisas alheias” reforça a crítica, presente em toda obra, à marginalização social por meio da exclusão econômica.
e) As referências a “enterro” e “cemitério” radicalizam a caracterização das “vidas secas” do sertão nordestino, uma vez que limitam as perspectivas do sertanejo pobre à luta contra a morte.

2. (FUVEST) Um escritor classificou Vidas secas como “romance desmontável”, tendo em vista sua composição descontínua, feita de episódios relativamente independentes e seqüências parcialmente truncadas.
Essas características da composição do livro:

a) constituem um traço de estilo típico dos romances de Graciliano Ramos e do Regionalismo
nordestino.
b) indicam que ele pertence à fase inicial de Graciliano Ramos, quando este ainda seguia os ditames do primeiro momento do Modernismo.
c) diminuem o seu alcance expressivo, na medida em que dificultam uma visão adequada da realidade sertaneja.
d) revelam, nele, a influência da prosa seca e lacônica de Euclides da Cunha, em Os sertões.
e) relacionam-se à visão limitada e fragmentária que as próprias personagens têm do mundo.

3. (PUC-SP) O mulungu do bebedouro cobria-se de arribações. Mau sinal, provavelmente o sertão ia pegar fogo. Vinham em bandos, arranchavam-se nas árvores da beira do rio, descansavam, bebiam e, como em redor não havia comida, seguiam viagem para o Sul. O casal agoniado sonhava desgraças. O sol chupava os poços, e aquelas excomungadas levavam o resto da água, queriam matar o gado. (…) Alguns dias antes estava sossegado, preparando látegos, consertando cercas. De repente, um risco no céu, outros riscos, milhares de riscos juntos, nuvens, o medonho rumor de asas a anunciar destruição. Ele já andava meio desconfiado vendo as fontes minguarem. E olhava com desgosto a brancura das manhãs longas e a vermelhidão sinistra das tardes. (…)

O trecho acima é de Vidas Secas, obra de Graciliano Ramos. Dele, é incorreto afirmar-se que:

a) prenuncia nova seca e relata a luta incessante que os animais e o homem travam na constante defesa da sobrevivência.
b) marca-se por fatalismo exagerado, em expressão como “o sertão ia pegar fogo”, que impede a manifestação poética da linguagem.
c) atinge um estado de poesia, ao pintar com imagens visuais, em jogo forte de cores, o quadro da penúria da seca.
d) explora a gradação, como recurso estilístico, para anunciar a passagem das aves a caminho do Sul.
e) confirma, no deslocamento das aves, a desconfiança iminente da tragédia, indiciada pela “brancura das manhãs longas e a vermelhidão sinistra das tardes”.

4. (UFLA) Sobre a obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos, todas as alternativas estão corretas, EXCETO:

a) O romance focaliza uma família de retirantes, que vive numa espécie de mudez introspectiva, em precárias condições físicas e num degradante estado de condição humana.
b) O relato dos fatos e a análise psicológica dos personagens articulam-se com grande coesão ao longo da obra, colocando o narrador como decifrador dos comportamentos animalescos dos personagens.
c) O ambiente seco e retorcido da caatinga é como um personagem presente em todos os momentos, agindo de forma contínua sobre os seres vivos.
d) A narrativa faz-se em capítulos curtos, quase totalmente independentes e sem ligação cronológica e o narrador é incisivo, direto, coerente com a realidade que fixou.
e) O narrador preocupa-se exclusivamente com a tragédia natural (a seca) e a descrição do espaço não é minuciosa; pelo contrário, revela o espírito de síntese do autor.

5. (UEL) O texto abaixo apresenta uma passagem do romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, em que Fabiano é focalizado em um momento de preocupação com sua situação econômica. Escrito em 1938, esta obra insere-se num momento em que a literatura brasileira centrava seus temas em questões de natureza social.

“Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça. Forjara planos. Tolice, quem é do chão não se trepa. Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria à gaveta do amo, cedia por preço baixo o produto das sortes. Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando espichar os recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco.”

(In: RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 55. ed. Rio de Janeiro: Record, 1991.)

Sobre este trecho do romance, somente está INCORRETO o que se afirma na alternativa:

a) Este trecho resume a situação de permanente pobreza de Fabiano e revela-se como uma crítica à economia brasileira e às relações de trabalho que vigoravam no sertão nordestino no momento em que a obra foi criada. Isso pode ser confirmado pelas orações: “… Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria à gaveta do amo, cedia por preço baixo o produto das sortes….”
b) A oração: “Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça” tanto pode ser o discurso do narrador que revela o pensamento de Fabiano, quanto pode ser o próprio pensamento dessa personagem. Esse modo de narrar também ocorre com as demais personagens do romance.
c) A oração: “… Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando espichar os recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco” indica a voz do narrador em terceira pessoa, ao mostrar o estado de agonia em que se encontra a personagem.
d) A expressão “Forjara planos”, típica da linguagem culta, é seguida no texto por um provérbio popular: “quem é do chão não se trepa”. Essa mudança de registro lingüístico é reveladora do método narrativo de Vidas secas, que subordina a voz das classes populares à da elite.
e) O texto tem início com a esperança de Fabiano de mudanças em sua situação econômica; a seguir, passa a focalizar a realidade de pobreza em que a personagem se encontra, e finaliza com sua revolta e angústia diante da condição de empregado, sempre em dívida com o patrão.

Gabarito

  1. c
  2. e
  3. b
  4. e
  5. d

 

Fontes pesquisadas

https://geekiegames.geekie.com.br/blog/resumo-vidas-secas/

https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/vidas-secas-resumo-obra-de-graciliano-ramos/

https://www.todamateria.com.br/vida-e-obra-de-graciliano-ramos/

https://www.passeiweb.com/preparacao/banco_de_questoes/portugues/vidas_secas

 

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